terça-feira, agosto 25, 2009

Parte segunda

O coração bate mais rápido.
Treme a barriga e as mãos.
As mãos suam muito.
Os joelhos também desfalecem ligeiramente.
Os dentes cerram uns contra os outros exercendo uma força involuntária que depois causa dor.
A fome desaparece.
O estômago grunhe qualquer coisa.
O corpo inquieta-se.
Actividade cerebral acelerada, devido a tentativas falhadas de não pensar.
Molham-se os olhos também sem nós querermos.
Abraça-se.

E desaba-se tudo o que é mantido até ali, na constante ansiedade parva e incomodativa. Cai tudo em milésimos de segundo mal chega a hora H. Neste caso a hora D, a da despedida. Uma coisa é certa: só Coimbra tem mais encanto na hora da despedida. Eu cá fico num trapo. É uma coisa que nos invade sem querer, onde até um gole de saliva custa a passar e uma vez passado parece que percorre a espinha de alto a baixo. Ai, que custa tanto… demais, diria até.

Ultrapassada a hora, vem a saudade. Essa maldita que nos consome a toda a hora, que nos corrói até ao limite da nossa resistência ao sono, que no silêncio escuro do quarto nos sufoca até às lágrimas que humedecem a fronha da almofada na calada da noite até sermos vencidos pelo cansaço e pelo desconforto gradualmente acentuado até ali. Sim, parece uma mariquice, mas vem de dentro garanto, daquele fundinho intocável que um dia eu falei. É mesmo daí. Vem quando nos falta o que todos os dias temos e por isso não reflectimos na altura no bem que nos fazem. É uma necessidade desenfreada da sua presença física, imbuída num pensamento egoísta e egocêntrico de querer só para nós o que julgamos pertencer-nos.

Dói-me a saudade.
É que dói mesmo. E não há pomadas nem pensos. Parece que é crónico.

um beijo*
menina do sorriso

Ps. Deixo-vos o que apara.

"Talvez se chame saudade" - Mafalda Arnauth

Este doce recordar
Que amargamente me invade
Talvez que não tenha nome
Talvez se chame saudade.

Vem da guitarra ao meu peito
E cantando vai seu pranto
Talvez se chame saudade
O que chora no meu canto.

Embora na alma doa
Talvez se chame saudade
O que em nós de longe ecoa
Doutros tempos doutra idade.

Talvez se chame saudade
A voz que a guitarra ecoa
Pungente suavidade
Que faz vibrar mas magoa.

A guitarra e a saudade
Têm a mesma raíz
São da beirinha do mar
Da alma do meu país.

Parte primeira

Depois de abalados da já habitual semana passada na companhia dos de sempre no interior do quente Alto Alentejo, seguia-se para o tal “retiro” Mesa do Canto… Cheirava a mar, a verão e férias, mas havia que fazer: Casa do Alto – Maia, 6 de Agosto pelas 21.30h. Engates, merda e desorganização à parte o dia lá chegou. O nervoso acentuava-se, as pessoas chegavam às pingas, cenário a postos, ACÇÃO.

Olá nós somos os Mesa do Canto
Nós só cantamos à capela portanto
(…)


e soltámo-nos. Nós e o público repleto dos demais que importam. E nós éramos feliz nas nossas “sete quintas” em forma de palco rusticamente iluminado.

Chega a noite. Sempre acolhedora, aberta aos que querem entrar, aconchegada em qualquer altura. Aquela não era excepção. Por isso, já sentados no eternamente nosso ponto de encontro lá se trocavam opiniões, ouviam-se bocas e piadas, ria-se das falhas. O aperto do estômago já estava a desaparecer, já nos apercebíamos do mundo que nos rodeia. Como tal não nos passou ao lado aquela roda de pessoas a trautear umas notas... ‘bora desafiar?

Fora os “pormenores” não tão relevantes quanto isso, estava tudo perfeito… o Porto testemunhava a nossa alegria e abstracção. Ninguém percepcionava mais nada. Entre improvisações, canções e fados, o verão mostrou-se no seu esplendor em várias línguas, onde triunfou a partilha da cultura, dos risos francos e sonoros, do transbordar de satisfação plena... Se se planeiam noites assim? Não creio. Acho que tamanha genuidade só acontece se ninguém pensar e for o que lhe apetece e o que o corpo manda e canta a cada segundo de cada instante de cada momento. Bolas, como eu fui contente naquela noite!... tanto!!!!

Sabem que vos agradeço oh presentes…

um beijo*
menina do sorriso